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Métodos Quantitativos em Contabilidade : A Contabilometria (7)

O conceito econômico de custo é diferente do conceito

Autor: Carlos Cesar D'ArienzoFonte: Administradores.com

O raciocínio do Prof. Iudícibus segue a série de cuidados (estatísticos e econômicos) nomeados por Barbancho (1970, p.34) quanto ao uso inapropriado da Econometria para todos os fins nos campos das Ciências Econômicas e apesar de todos os seus avanços como técnica, ao enumerá-los:

"Ordem Estatística: dificuldade de dar tratamento a alguns tipos de modelos não lineares; autocorrelação observada entre os termos residuais; erros de observações nas variáveis; amostras pequenas e ou não representativas; intercorrelação entre as variáveis explicativas, impedindo o pleno conhecimento da verdadeira relação (multicolinearidade).Ordem Econômica: dificuldade de incorporar aos modelos fatores subjetivos como atitudes, opiniões, expectativas, intenções; problema de classificação de variáveis em endógenas e exógenas, ou seja, dificuldade de estabelecer a direção do efeito das variáveis; problema de especificação da teoria e dos erros."


Contudo, deve-se entender que o profissional de Contabilidade, disposto a trabalhar com elementos de Contabilometria, necessita desenvolver conhecimentos de Elementos de Técnicas Computacionais, Economia e Administração, além de conhecimentos específicos de Matemática e Estatística tais como: funções, derivadas, máximos e mínimos de funções, limites, integrais, determinantes, matrizes, séries, medidas de tendência central e de dispersão, amostragem, probabilidade, teste de hipótese, correlação, análise de regressão e análise de variância.

D'Áuria em 1948 (apud Silva; Martins, 2009.p.57) preconizava a evolução imperiosa do profissional de Contabilidade:

"O contador de hoje não é um simples registrador de operações comerciais. Sua função desdobrou-se nas mesmas proporções da Contabilidade, desempenhando o papel de consultor técnico em matéria jurídico-comercial, economia, administração, matemática e estatística."

O Prof. Iudícibus adverte quanto ao uso puro e simples da Econometria como suporte à Contabilometria em sua fase nascente, notadamente em relação às diferenças (às vezes sutis) entre as Teorias Econômicas e Contábeis, sobre, por exemplo, a natureza dos Custos de Produção, em suas palavras (1982, p.45):

"Existem fenômenos econômicos que não se traduzem em fatos contábeis, pelo menos para determinada entidade, dentro de certo período de tempo, e alguns fatos contábeis não são fenômenos econômicos reais. [...] Nesse aspecto, claramente, a Contabilidade, através de seu mecanismo patrimonial (estático e dinâmico) consegue correlacionar fenômenos entre causas e efeitos de forma própria, com interpretações específicas e com sentido bem distinto do de outras ciências. Muitos puristas da definição de ciência talvez 'torceriam o nariz' a esta observação mas, na verdade, não se pode negar sua evidência prática, pelo menos para nós contadores."

As advertências expostos pelo Professor Iudícibus (1982), referentes à comparação entre Teorias Contábeis e as Econômicas, são compartilhadas por VASCONCELLOS e OLIVEIRA quando observam:

"O conceito econômico de custo é diferente do conceito contábil usual. Ambos os conceitos consideram que o custo de produção é dado pelo que se gastou com os fatores de produção necessários para a geração do produto. [...] No entanto, enquanto o conceito contábil toma por preço dos diferentes fatores de produção o valor efetivamente pago a esses fatores, o conceito econômico toma por preço o assim chamado custo de oportunidade desses fatores. O custo de oportunidade de um fator de produção corresponde ao melhor ganho que se poderia obter empregando-se esse fator em outra atividade que não a produção da firma. Por exemplo, o capital em caixa de uma empresa poderia ser destinado a alguma aplicação financeira gerando com isso um rendimento. Esse rendimento é o custo de oportunidade desse capital.. Quando uma empresa realiza sua produção em prédio próprio, o custo de oportunidade desse prédio é o valor do aluguel que a empresa obteria se alugasse esse prédio. (2000, p.149)"

Sendo assim, os argumentos do Prof. Iudícibus, com base em suas experiências de campo, corroboram o alerta que Barre (1964, p.27) havia feito na década de 1960:

"Se uma Ciência Social determina sua visão do mundo, não é menos verdade que suas fronteiras com as disciplinas vizinhas são difíceis de se traçarem na medida em que o objeto de seu estudo continua sendo a totalidade humana complexa e diversa. Cada uma das Ciências Sociais organiza a própria causalidade, mas atinge depressa a esterilidade se cultiva um completo isolamento. Entretanto, cada uma delas arrisca-se a diminuir o interesse de sua análise, se não souber limitar seu objeto e se resguardar de incursões em outros domínios".

O Prof. Iudícibus (1982,p.45) prossegue em suas observações quanto às limitações da analogia envolvendo Econometria e as especulações sobre a nascente Contabilometria:

"[...] precisamos verificar se a definição de Econometria dada linhas acima poderia ser transplantada para a Contabilidade. Assim, Contabilometria seria: a análise, quantitativa de 'fenômenos contábeis' reais baseada no desenvolvimento concomitante da teoria e da observação, relacionados através de métodos apropriados de inferência. Bem, temos, aparentemente, um problema aqui. A rigor, deveríamos ter 'fenômenos contábeis reais' para sermos exatamente simétricos com a definição de Econometria. Talvez nem tivéssemos Contabilidade se dependêssemos apenas de genuínos fenômenos contábeis reais, pois a maior parte dos 'fatos contábeis' decorre de fenômenos econômicos (transações) reais ou, na apreciação de relatórios periódicos, da agregação de vários fatos ocorridos em vários momentos de tempo. É preciso ressaltar, todavia, que os dois conjuntos (fenômenos econômicos e fatos contábeis) não são isomórficos."

De acordo com Silva e Martins (2009), os mestres Hilário Franco e Eliseu Martins, ao participarem do II Congresso Internacional de Educadores de Contabilidade, realizado no Brasil em 1983, expuseram um trabalho intitulado "Currículo Básico do Contador, orientação técnica versus orientação humanística", em que mostrava que a experiência latino-americana priorizava ou valorizava a participação das disciplinas técnicas no currículo em detrimento das disciplinas humanísticas.

A proposição feita pelos educadores era a da inclusão nos currículos dos Contadores de disciplinas humanísticas, pois, observaram (apud Silva e Martins 2009, p. 131-132):

"[...] que nos ensinem a pensar, a disciplinar o nosso pensamento e a metodizar nossas pesquisas e indagações científicas. Precisamos nos libertar da atávica tendência de formarmos adminsitradores-contadores, ou economistas-contadores, para formarmos, apenas e acima de tudo, Contadores capazes de dialogar com Administradores, Economistas, Engenheiros etc. Ao mesmo tempo em que o Contador deve ser pessoa altamente versada e vocacionalmente dirigida para trabalhar com números e valores, de forma relativa, sem nunca perder o sentido da materialidade, também atua num ambiente econômico que, em seu ambiente mais amplo, é social e institucional, e no qual a habilidade para lidar com pessoas e grupos, e mesmo a cultura geral e humanística, são aspectos fundamentais para o sucesso de sua atuação."

Contudo, nas Ciências Sociais, mesmo nos campos de suas aplicações práticas, as limitações das ciências estão diretamente relacionadas às limitações do conhecimento humano e sua capacidade de integrá-lo (conhecimento) nas diversas e complexas disciplinas aplicadas de cada segmento da Ciência, mas isso não invalida as suas realidades na solução dos problemas e no avanço do Conhecimento.

Quando se discute Contabilidade, seguem-se os pensamentos e interesses do momento. No entanto, as teorias elaboradas para a solução das questões do presente não podem se limitar aos conhecimentos atuais, esquecendo um histórico rico de outros segmentos ou ramos da Ciência, que pode ajudar na solução dos problemas econômicos e contábeis.

Nesse sentido, Barre (1964, p.27) adverte sobre a tentativa de isolarem-se ramos da Ciência: "[...] Autonomia não significa independência e implica colaboração e convergência de esforços." Afinal, é a organização do Conhecimento e a avaliação das precedências das teorias e técnicas, que fornecem a base para o trabalho científico, mesmo de disciplinas nascentes ou ainda incipientes, caso da Contabilometria.