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Crédito corporativo dá sinais ruins

Nas concessões a famílias, houve recuo bem menor, de 0,4%.

Fonte: Valor Econômico

O discurso do governo para fomentar o crédito para investimentos e, por tabela, a recuperação da economia brasileira, refletiu-se timidamente no crédito nos três primeiros meses do ano. Linhas de crédito para investimentos têm avançado menos que linhas de curto prazo em empresas, enquanto o prazo médio da carteira de financiamentos corporativos aumenta de forma tímida. Dados preliminares de abril, se confirmados, colaborariam para que o quadro fique ainda mais negativo.

Nos dez primeiros dias úteis de abril, a média diária de concessões de crédito caiu 3,2%, ante o mês anterior, informou na sexta-feira o chefe do departamento econômico do Banco Central, Tulio Maciel. A queda foi puxada pela redução de 6% nas concessões a empresas. Nas concessões a famílias, houve recuo bem menor, de 0,4%.

Em março, a média diária de concessões para empresas já tinha perdido tração. Cálculos da equipe de economistas do Credit Suisse, publicados em relatório, mostram que, em março, a média diária de desembolsos a pessoas jurídicas foi de 13,8% superior ao mesmo mês do ano passado. Em fevereiro, esse avanço foi de 19,6%. Na pessoa física, o movimento foi oposto. A média diária de desembolsos cresceu 25,7% em fevereiro e 27,9% em março.

Há quem defenda, porém que essa seja uma condição temporária. "Na nossa visão, os empréstimos corporativos devem ultrapassar os financiamentos ao varejo no curto a médio prazos, com os bancos focando em produtos com colaterais e menos risco. Adicionalmente, os esforços do governo para endereçar as necessidades de infraestrutura do Brasil devem levar a uma maior participação do sistema bancário em financiamento corporativo de longo prazo", escreveu a equipe de economistas do Deutsche Bank, em relatório.

O avanço do saldo de crédito vem sendo puxado pelos empréstimos corporativos, ainda que em ritmo moderado. O estoque total de operações, que inclui recursos livres e de aplicação obrigatória (o crédito direcionado), subiu 1,8% em março, ante 0,7% em fevereiro, fechando o trimestre em R$ 2,427 trilhões. O estoque cresceu mais junto a empresas (2,2%) do que junto a famílias (1,4%).

Dentro dos recursos para pessoa jurídica, alguns indicadores mostram que ainda não é o investimento o motor desse aumento. A linha de financiamento a investimentos do BNDES cresceu 1,4% ante o mês anterior, enquanto as linhas do banco estatal para capital de giro avançaram 4,1%. Paralelamente, o prazo médio do estoque de crédito para empresas fechou março em 31,6 meses, enquanto a carteira de pessoa física durava, em média, 65,4 meses.

A LCA Consultores também prevê uma intensificação da demanda das empresas por crédito, fruto das medidas de incentivo do governo aos investimentos. "A forte expansão das consultas e dos desembolsos do BNDES no primeiro trimestre reforça essa perspectiva", escrevem economistas da consultoria.

Uma outra pressão, do ponto de vista dos indivíduos, também pode colocar em xeque a recuperação econômica. Embora a taxa de inadimplência tenha recuado em março, os calotes antecedentes, entre 15 e 90 dias, na pessoa física voltaram a subir (de 6,5% em fevereiro para 6,7% em março). Acima de 90 dias, a taxa é 5,4%. Para o Credit Suisse, porém, a inadimplência da pessoa física deve recuar no ano, graças ao corte feito nas taxas de juros de empréstimos e seu impacto no orçamento das famílias.