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Redução da jornada de trabalho para 4 dias por semana vai “pegar” no Brasil?

A ideia se tornou um novo hype em todo o mundo e uma rápida pesquisa no Google mostra mais de 5 bilhões de resultados

Os dois últimos anos trouxeram mudanças mais significativas para o mundo do trabalho do que qualquer outro ano na memória recente. Um dos ajustes mais interessantes à turbulência do coronavírus foi a perspectiva de uma semana de trabalho de apenas 4 dias.

A ideia não é nova, pois já foi exercitada em empresas por motivos diversos como dificuldades financeiras ou até países (já foi uma política trabalhista na França). Mas, ganhou novo impulso com o empresário e inovador de negócios Andrew Barnes. No livro “The 4 Day Week”, publicado em 2020, ele relata um experimento feito na sua empresa: as pessoas ficaram mais felizes, engajadas em suas vidas pessoais, focadas e produtivas no escritório.

A ideia se tornou um novo hype em todo o mundo e uma rápida pesquisa no Google mostra mais de 5 bilhões de resultados. Sem surpresa, pesquisas mostram que a maioria dos trabalhadores quer uma semana de trabalho de quatro dias: 92% das pessoas apoiam e dizem que isso melhoraria sua saúde mental e produtividade, de acordo com uma pesquisa de janeiro da Qualtrics.

A organização sem fins lucrativos 4 Day Week Global vem desenvolvendo projetos-piloto em empresas de diversos países, de startups a empresas com centenas de colaboradores. No Reino Unido, 86% dos entrevistados disseram que manteriam a política após o término do teste.

E o melhor: a medida funciona bem no ambiente de negócios. Para 95% das empresas, a produtividade permaneceu a mesma ou melhorou durante a semana mais curta.

Num contexto em que cada vez mais, a força de trabalho está buscando escolher onde e como trabalhar, as empresas que criaram uma estrutura que possibilita desenvolver as mesmas atividades em 32 horas semanais têm alcançado benefícios maiores do que o bem-estar dos colaboradores.

Muitas delas registraram um aumento de até três vezes no número de candidatos às vagas abertas. E o melhor: nota-se que os candidatos estão entre as pessoas mais capacitadas e que buscam uma melhor qualidade de vida.

Mas será que a ideia funcionaria no Brasil?

É difícil fazer uma afirmação que possa abranger todos os segmentos de indústrias ou empresas de serviços. Notamos que por enquanto as poucas empresas dispostas a adotar o modelo estão nas áreas de tecnologia e inovação, apesar de um cenário de apagão da mão de obra em diversos setores, um dia a mais de descanso é uma oferta irresistível capaz de competir com empresas estrangeiras que têm salários maiores.

Aliás, em setores com dificuldade de recrutar por rápido crescimento, parece que este poderá ser um bom benefício de diferenciação frente aos candidatos.

Ainda há muito a ser discutido sobre o assunto. Inclusive que o modelo pode ser flexibilizado. A primeira opção é que a jornada atual seja continuada, mas com uma carga horária de 10 horas diárias. Outra opção é a redução para 32 horas, mas continuando com 5 dias semanais.

Os poucos exemplos que encontramos no Brasil se concentram nas áreas administrativas, gerenciais e de serviços. Atendimento e produção, como tantos outros departamentos, ainda precisam ser discutidos.

Se você está disposto a testar, na posição de empresário ou profissional, considere as seguintes estratégias:

  • Defina claramente seus objetivos;
  • Certifique-se de que os processos estão ajustados e poderão ser adaptados
  • Priorize, revise e automatize tarefas;
  • Construa com as equipes a reconstrução das rotinas e rituais;
  • Não meça horas, mas resultados;
  • Crie uma cultura que enfatize a criatividade humana, a cooperação e a corresponsabilização;
  • Experimente e aprenda com os erros.

A pandemia do COVID-19 levou a uma reavaliação do trabalho em todo o mundo e o tema bem-estar ganhou mais força, quando muitos profissionais viram, na jornada à distância e/ou híbrida, muitas vantagens. E muitas pesquisas atestam que a produtividade melhorou na maior parte das funções e indústrias.

Alguns setores, no Brasil e fora, já adotam jornadas alternativas, mesmo antes da pandemia. Veja o setor farmacêutico que, em muitos casos, tem em 1 dia da semana, jornada de meio período. Apesar do restante da cadeia de valor do setor não ter adotado a mesma prática, todos estão adaptados.

O aumento do interesse na semana de trabalho de quatro dias é no meu entender no mínimo uma discussão muito saudável. É difícil prever se muitos setores irão adotá-lo, mas sabemos que será nos negócios mais concorridos e com mão de obra mais escassa que a questão encontrará campo fértil para evoluir e, potencialmente, pode se estender a outros segmentos da sociedade.

O que estou convicto é que tratar a força de trabalho a partir de um olhar humanizado e respeitoso, será sempre positivo, por estimular a criatividade, ampliar o interesse a à adesão aos desafios cotidianos de todas as organizações.